Ericeira, Penafiel e Moita

As três últimas itinerâncias do atelier A Maior Flor do Mundo levaram-nos à Ericeira, a Penafiel e à Moita.
Três locais diferentes, três realidades distintas.

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Ericeira

Na Ericeira, os ateliers tiveram lugar na EB 2,3 da Ericeira, no espaço da Biblioteca Escolar, para alunos do 5.º e 6.º ano. E permitiram comprovar alguns sinais que mostram as dificuldades que hoje se vivem em algumas escolas, com alunos que não respeitam o professor e o seu papel de educador. Uma situação que, neste caso concreto, entronca no papel que muitos pais assumem, de defesa incondicional dos seus descendentes quando não se verificam razões para tal. No meio de algumas situações mais complicadas, as sessões decorreram com a normalidade possível.

Em Penafiel, as sessões decorreram a bom ritmo com turmas de duas escolas. Uma da sede de Concelho e a outra com duas turmas de uma freguesia rural, Milhundos. E também neste caso foi possível retirar algumas conclusões, no que respeita ao interesse e envolvimento dos alunos. Se no primeiro caso, os alunos demonstraram atenção e interesse no trabalho realizado, no segundo atelier as expectativas foram superadas. Da experiência acumulada até aqui, percebe-se que os alunos de zonas mais afastadas dos centros urbanos apresentam uma vontade e uma disponibilidade maior, facto que resulta, provavelmente, de existir uma menor oferta cultural nos locais onde habitam, confirmando as distintas realidades do país.

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Moita - Vale da Amoreira

Por fim, no Concelho da Moita, os ateliers realizaram-se no Vale da Amoreira e em Alhos Vedros. As duas primeiras sessões receberam os alunos do 1.º Ciclo da Escola do Vale da Amoreira, zona conotada com alguns problemas sociais, entretanto esbatidos pelo trabalho realizado entre a comunidade e os serviços públicos que ali funcionam. Os dois ateliers que ali tiveram lugar confirmaram isso mesmo, perante os cerca de 100 alunos que se empenharam e participaram activamente no trabalho que lhes foi proposto. No caso de Alhos Vedros, o atelier recebeu alunos de uma turma do 2.º ciclo e acrescentou alguns indícios a uma tendência já referida num texto anterior, de que os jovens a partir da adolescência apresentam uma maior propensão para o afastamento em relação aos livros e à leitura. Uma tendência a confirmar em ateliers futuros.

«A Maior Flor do Mundo» pelos alunos do Centro de Reabilitação do Alcoitão

Em resposta ao desafio deixado no atelier A Maior Flor do Mundo, recebemos três trabalhos de alunos que estão no Centro de Reabilitação do Alcoitão. Trata-se de um texto e de dois desenhos que reinterpretam o texto de José Saramago e o filme concebido a partir do livro.

Aqui ficam:

A história segundo o Kiko

Sou o escaravelho Kiko e estava em cima de uma flor, quando fui apanhado pelo Zezinho que me meteu numa caixa com buracos.
– Eu sou igual a todas as pessoas. Podes tirar-me daqui? Quero ir fazer a minha vida! – pedi-lhe.
Mas o Zezinho não me deu ouvidos até que tropeçou numa pedra, a caixa abriu-se e eu fugi a voar para a floresta.
O Zezinho bem que correu atrás de mim: atravessou o rio, passou por campos de campainhas coloridas, árvores e árvores sem fim, só que não conseguiu apanhar-me.
Andava eu a trabalhar, a fazer a minha casa, a suar em bica e quem vejo? O Zezinho a correr esbaforido com água nas mãos feitas concha.
– Onde é que este malandro vai que nem me viu?
Fiquei curioso e segui-o. Será que ele apanhou algum dos meus amigos?
Voei, voei e o Zezinho continuava a passar por mim para lá e para cá com água nas mãos.
Quando cheguei ao sopé da colina vi a maior flor do mundo e o Zezinho adormecido na sombra da flor e uma pétala como se fosse um cobertor.
Voei até ao Zezinho e soprei devagarinho ao seu ouvido:
– És um herói!
O Zezinho acordou, agradeceu-me as palavras e abraçou-me. Ficámos amigos para sempre. A flor passou a ser a minha casa, porque foi lá que encontrei a Nini, a minha namorada.
Daqui, da minha casa, avisto a aldeia e a casa do Zezinho. Todas as noites, ele faz-me sinais de luzes com uma lanterna a dizer-me:
– Tenham uma noite feliz!
Agora já tenho uma história para contar aos meus filhos.

Ana Patrícia, Dulciney Pontes, Lassana Indjai, Malam Sané, Nikita, Ruben Brito, Sónia Coelho, Tiago Baptista

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Lassana Indjai

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Malam Sané

«A Maior Flor do Mundo», desta vez perto de Lisboa

Continuando o programa de ateliers da Fundação José Saramago, A Maior Flor do Mundo visitou ontem o Centro Hospitalar de Alcoitão e a EB 2, 3 de Alcabideche.
No primeiro atelier estiveram presentes 7 crianças que estão neste momento em reabilitação naquele centro hospitalar. O trabalho que ali se desenvolve visa, e com sucesso, levar um outro tipo de bem-estar a quem é, ainda que temporariamente, alvo de cuidados médicos. À chegada, um grupo de palhaços percorria os corredores, enchendo de sons espaços que são, normalmente, habitados pelo silêncio. A sessão teve lugar na sala de aula da Escola que ali funciona e encontrou nos alunos, conhecedores da vida e da obra de José Saramago, em resultado do trabalho dos professores, um grupo atento, interessado e pronto a entrar nas páginas, nos sons e nas imagens de A Maior Flor do Mundo. À saída, ficou a garantia de que, nos próximos dias, receberemos alguns trabalhos escritos ou desenhados, de sua autoria. Ficamos ansiosamente à espera.

A segunda sessão decorreu na EB 2,3 de Alcabideche. Na sessão, que teve lugar na Biblioteca Escolar, estiveram presentes duas turmas do 2.º ciclo, num total de cerca de 35 alunos. Também aqui o trabalho deu frutos apesar de alguma relutância demonstrada no início da sessão. Alguns dos alunos que compõem a população escolar da EB 2,3 de Alcabideche apresentam alguns sinais de distanciamento em relação ao trabalho na sala de aula e à própria dinâmica escolar. Por esta razão, a realização de acções que os levem a aproximar-se do universo lectivo, de uma forma lúdica e afastada dos princípios que devem reger o trabalho na sala de aula, reveste-se de uma ainda maior importância. Foi dado mais um passo nesse sentido. Fica a expectativa de que este trabalho frutifique.

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Alcoitão

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Alcoitão

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Alcabideche

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